sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Nostalgia, idosos e saudade.


Pensei em escrever um pequeno conto, onde dois velhinhos se amassem desde a primeira vez em que se viram, pensei em contar a história deles, e sobre o dia em que se casaram, ah esse dia! Nesse dia, eles prometeram diante de Deus, dos amigos, parentes e conhecidos, que jamais quebrariam essa aliança, que estariam juntos até o último dia de suas vidas.
Nesse dia ele recitou o Soneto de Fidelidade, com a voz embargada e com os olhos fixos no sorriso dela, enquanto pensava: "Quero fazê-la sorrir todos os dias, ainda que seja difícil. Quero ver esse brilho nos olhos... até quando ela tiver a pele enrugada, e que esse brilho nos olhos seja justamente a única coisa que nunca mudou em sua face. Eu quero estar com ela, quero dividir com ela toda a minha história!", e as lágrimas ficavam presas, afinal ele precisava manter a voz límpida para que ela ouvisse o Soneto.
Eles deixaram a foto desse dia na parede da sala, é em preto e branco.
Mas não vem ao caso o resto da história deles, vai ficar guardada comigo.
A questão é que enquanto desenhava me lembrei do meu vô, o meu avô faleceu esse ano, guardo boas lembranças, e uma saudade que nunca passa. Eu adorava ficar sentada no sofá ouvindo os causos dele, na nossa última longa conversa, ele me contou novamente toda a história dele com a vó.
"- Vô, me conta como você conheceu a vó? - sorri e esperei que ele me contasse, se tem uma coisa que eu gosto é saber como os casais se conheceram.
- Me apresentaram a véia ela ainda era noiva - soltou uma gargalhada - mas não tinha jeito! Aí a Severina desmanchou o noivado, e casou comigo. Tão novinha, o cabelo claro, meio ruivo... Ô minha véia, que saudade que eu tenho dela!
- E aí vô, como foi depois que vocês se casaram?
- Lá no Norte foi difícil, eu trabalhava na roça pra sustentar a casa, e ela também se esforçava, queimava Xique Xique pra dar pros gados, levava minha marmita na hora do almoço, mesmo quando o Sol tava quente! - o olhar se perdeu.
- Sofrimento, né vôzão? Mas ainda bem que deu tudo certo, né? Sabe o que eu lembro? Que quando a vó era viva, vocês encrencavam direto!
- Ela era teimosa demais! - agora já estava com uma voz de quem está bravo - Ô mulher encrenqueira!
Comecei a rir alto, ele olhou pra mim e sorriu."
É vozão, que saudade que eu tenho de ouvir tudo isso! Me dá uma saudade de ouvir você falando sobre o vestidinho preto com florzinhas vermelhas que ela usava... Vocês se amavam de verdade, eu sei.
O quintal ficou vazio depois que você foi embora, e ninguém mais embala as tardes tocando O trem das onze.

PS¹: Às vezes eu sinto uma vontade de dizer essas coisas para ele, mas é tarde.
PS²: Me parte o coração saber que a comunidade mais linda do orkut tem pouquíssimos membros, participem, hein?
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=99924142
PS³: Na verdade os meus avós vieram do Nordeste, é que meu vô falava Norte porque eles vieram do Rio Grande do Norte. Nesse dia ele me contou muita coisa, mas ia ficar longo demais pra escrever aqui.

Beijo do Pato :*

2 comentários:

  1. Belo texto, sei bem como é isso, perdi minha avó recentemente,...parece que fazer o papel de neto é como manter um pé na linha da infância...ae depois que ela se foi,não te mais isso, enfim, desabafos a parte...Parece que hoje em dia ta tão dificil de criar uma historia como essas de seus avos...
    Parabéns pelo blog, tem uma música do los hermanos que fala mais ou menos isso : http://letras.terra.com.br/los-hermanos/67554/

    falous!

    ResponderExcluir
  2. Ai que história lindaa!
    Mare, sua família é linda!
    PARABÉNS!

    ResponderExcluir